Eu, as roupas e o teclado
- Tathi Pio
- 3 de mar. de 2020
- 1 min de leitura
Estou fazendo uma canção. Ela toca na minha cabeça enquanto lavo louça, enquanto arrumo a casa ou amamento Martim.
Todo dia crio expectativa de tocá-la, tentar tirar os sofridos acordes do teclado.
Mas sempre que vou ao quartinho onde o teclado está, vejo uma pilha de roupas me esperando. O teclado está perto da tábua de passar soterrado com a inundação de afazeres. Quando consigo dar conta de guardar as roupas, ele aparece… escavado, resgatado, magno, belo e olha pra mim. Acorda a cantora interior.
Nesse momento, o tempo para… [câmera lenta nessa cena…] eu estendo as mãos em direção a ele… - Se eu ao menos pudesse tocá-lo… [a trilha sonora de vitória vai aumentando…] Ligo o teclado e respiro fundo me sentindo a maior compositora do mundo!
De repente:
- Mãae, me dá um suco! - Mãe, tô com fome! - Martim acordou!
É cíclico.
No outro dia ele vai novamente se escondendo e desaparecendo aos poucos sob as roupas tiradas do varal.
Encontros e despedidas regidos pela música que ainda toca na minha cabeça.
O importante é que ela ainda toca e me toca...
Sigo compondo e me recompondo todos os dias.
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