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Deixar-se ler

  • Tathi Pio
  • 3 de mar. de 2020
  • 2 min de leitura

Dia desses estava com Martim na cozinha quando escuto na sala o barulho de cadeiras sendo arrastadas seguida de silêncio. Encontro Maria e Caio sentadinhos numa mesinha improvisada com banquinhos, folheando, cada um, uma bíblia de estudo. Os dois estavam “lendo suas bíblias”. Achei aquele cenário apaixonante e pra não perder a oportunidade de usar aquela salinha de catequese fui improvisando o que eu poderia ensinar a eles sobre Jesus.

- Ahh, esse livro mamãe ama muito. Deixa meu coração muito feliz. Vamos lá… Vamos abrir as duas bíblias na mesma história de Jesus? Humm deixa eu ver.. Maria abriu no livro de Lucas Capítulo 4. Vou abrir a sua também no Livro de Lucas e capítulo 4, Caio. Isso. Olha só… os números grandes são capítulos, falam comigo: - Capítulos! (fui ao delírio quando eles responderam, parecia sonho apostolado). Continuei. - Aqui em cima é o nome do livro onde está o capítulo e esses numerozinhos pequeninos, estão vendo? São versículos. Ajudam a gente a saber onde estão os textos na bíblia, igual na missa. Repitam comigo: Versículo! - Versículo! - Muito bem… vou achar aqui um texto sobre Jesus pra gente seguir junto, vamos lá…

De repente surgiu um bebezinho fofinho aprendendo a engatinhar na história. Ficou de pezinho apoiado na mesinha e começou a tentar puxar as bíblias, rasgar, brincar, comer. lamber, babar nela… se o tirássemos abria o berreiro. Coisas de bebê de sete meses. Eu insistia em levar as duas coisas, mas Martim não deixava. Bom, por fim falei pra Maria e Caio:

- Podem continuar lendo, mamãe não vai conseguir explicar agora.

Na hora fiquei com raiva, fui pra cozinha tirar satisfação com Deus. O tempo era propício. As crianças estavam sedentas (e comportadas) e dispostas a aprender sobre Jesus pela bíblia. Porque Deus não pôde acalmar o Martim naquela hora? Puxa...

Numa rápida meditação, fui entendendo que a sede deles já era minha vitória daquele dia. A a proposital "esquecida" da bíblia no sofá foi instigante pra eles. Fui entendendo que eu não preciso ter momento catequético para ensinar Jesus. Mãe e pai tem que ter o evangelho na ponta da língua, nos olhos, nos poros. Cravado na alma.

A vontade real era brigar com Martim ou acusá-lo dizendo à Maria e Caio que é culpa dele não conseguirem ler a bíblia. Brigar também com a falta de tempo ou com o mundo que me atrapalhou de ensinar o Amor...

Mas usar o desamor para ensinar o amor de Jesus é absurdo.

Dessa vez engoli seco. Estanquei o fluxo da raiva…não acusei, abracei o pecador, morri pra mim, ressuscitei e a virei amor. Flori. O evangelho todo num segundo...

O Autor Sagrado me reescreveu...

E até quem não sabe ler, leu.


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