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Saboreando um gosto que não é só meu

  • Tathi Pio
  • 29 de dez. de 2016
  • 2 min de leitura

Casamento

Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como "este foi difícil" "prateou no ar dando rabanadas" e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva.


Adélia Prado



Às vezes fico pensando. Nós cristão fomos acostumados desde jovens a carregar a cruz e sofrer por amor. Jesus por excelência nos ensinou isso.


Mas o que ele quis dizer com: “prefiro o amor aos holocaustos”?


Ele se sacrificou sim, mas acima de tudo amou. E esse amor o alimentou na agonia e o fez feliz. Acredito nisso. Não imagino um Jesus triste fazendo tudo por puro sacrifício. O amor traz alegria. Traz a verdadeira alegria.


Por que então na família às vezes preferimos prender o fôlego, segurar firme, a dar um passo a mais e amar?


Lembro-me quando o Gustavo saiu uma vez pra conversar com os amigos e eu fiquei sozinha com minha filha Maria. Pra mim foi um sacrifício. “Enquanto ele curte, eu fico aqui, me sacrificando”, pensava. Eu também já fui a lugares de que não gostava só porque o Gustavo queria e pra mim era sacrifício. Até nossa relação sexual por muitas vezes foi pra mim sacrifício.


Eu fazia muitas coisas por sacrifício e como fui criada na Igreja, pra mim era mais fácil rezar mil Ave Marias com cara de piedade que “curtir” algo que eu não curta.

E as coisas começaram a ficar pesadas demais. Porque o amor não me elevava para além do sacrifício.


Ter alguém dentro de casa que só faz sacrifícios e não ama é um fardo muito pesado pra ambos, e desestrutura qualquer casamento.

Sabe, ainda estou aprendendo...

Por que eu não poderia brincar com minha filha porque amo brincar com minha filha? Fazer um almoço gostoso porque gosto de fazer almoço? Ir a algum lugar que meu marido goste porque também posso gostar?


Quando se casa passa-se a saborear gostos que não são só seus. Digo saborear. Não é só comer, mandar pra dentro.


Como em casais que têm gostos musicais diferentes. Se ela gosta de forró, por que tem que ser sacrifício ir a um show de rock com o marido? Por que não pode mudar a chave do “faço isso por ele” e ligar a “faço isso também por mim”? A festa que seria por sacrifício viraria alegria de ambos e a vida vai ficando mais leve.


Vá ao show pra curtirem juntos, escute a letra, seja aberto ao encantamento que vem do gosto do outro. É bacana essa experiência, mas nada fácil.


O casamento não é lugar pra síndrome de Grabriela (“Eu nasci assim, eu cresci assim, E sou mesmo assim, vou ser sempre assim”), de descobrir o que gosto e não gosto e se fechar no perfil que criamos pra nós. É sim um eterno experimentar o gosto que não nos pertence.


Como no casamento o amor é bilateral, ele flui também de lá pra cá. E assim seguimos na missão de encontrar o ilógico equilíbrio da balança matrimonial.





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