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Não afirmar os papéis

  • Tathi Pio
  • 20 de dez. de 2016
  • 2 min de leitura

Sempre tentamos educar nossos filhos na vida cristã, mesmo que muitas vezes não falemos de Jesus, Deus ou da Mãezinha do Céu. Tentamos ensiná-los a dividir os brinquedos, cumprimentar os outros, perguntar se está tudo bem, treinar a inteligência emocional, entendendo e sabendo lidar com próprios sentimentos de frustração, alegria, inveja, ciúme...


Mas tem coisas que eles aprendem sozinhos. Nossa intervenção de pais muitas vezes pode piorar a situação.


Minha filha sempre foi “pra frente”, engraçadinha e comunicativa, mas tem muita dificuldade de dividir brinquedos. Ela tem uma amiguinha que ama de paixão, mas se colocam um brinquedo entre as duas sempre dava briga. E a má da história era sempre a minha filha.


Eu e o Gustavo abaixávamos, falávamos olho no olho, explicávamos que pra ela se divertir era preciso deixar que a amiguinha brincasse um pouco, uma emprestando pra outra. Falávamos que a outra estava triste porque queria brincar, e assim, vez em quando emprestava. Mas 10 segundos depois ela já estava aos berros querendo o brinquedo de volta (ainda que o brinquedo não fosse o seu).


Por outro lado, sua amiguinha sempre sorridente e feliz emprestava.


Onde estamos errando? – me perguntava. Cheguei a pensar que as duas nunca seriam amigas, já que minha filha oprimia a amiguinha e não encontrava nela um limite. Enquanto a amiga era facilmente oprimida e não encontrava em minha filha liberdade e estímulo pra ser livre.


Mas um dia em nossa casa, minha filha tomou o brinquedo da amiguinha e eu não consegui intervir a tempo. Pra minha surpresa, ao invés de chorar, a amiguinha começou a correr para o lado e a brincadeira virou pega-pega, com as duas sorrindo e se divertindo aos montes. Fiquei observando à distância.


Li uma vez que não devemos afirmar o papel de vilão e mocinho nos nossos filhos, e sem querer nós estávamos fazendo isso quando intervíamos. Na melhor das boas intenções ao invés de educa-las nós estávamos deixando claro que minha filha era egoísta e a sua amiga passiva demais. Mas elas são apenas crianças com características diferentes, aprendendo sobre si e sobre o mundo.


Sem saber, Maria nos observava, buscava em nós o limite que não encontrava na amiga, mas que na verdade deveria partir dela mesma.


O que parecia egoísmo pode ser proteção, liderança... quem sabe? O aparente defeito pode se tornar virtude, por que não? Vamos com calma. Cada fase é uma fase. Não quero que ela, já tão pequena desacredite em si. Minha filha não é a má da história. Ela é um emaranhado de surpresas genéticas com dons e dificuldades, que vamos juntos desvendando.


Ainda continuo tentando educar nossos filhos na vida cristã, me abaixando e olhando nos olhos deles, ensinando o que é bom.


Mas nem sempre acertarei e isso não fará de mim a má da história. Estou aprendendo também.


 
 
 

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