3 dias no CTI pediátrico (PARTE #8) – Caio vai pro quarto e a intriga com outra mãe
- Tathi Pio
- 15 de nov. de 2016
- 2 min de leitura
Caio foi liberado pro quarto!
Tenho vergonha de assumir, mas a ida dele pro quarto não foi somente alegria. Desinstalou-me novamente. Ele ficaria sem as máquinas, vão cessar as orações e mensagens de incentivo no celular. Seria um novo caminho mais solitário. Não poderia excluir isso das minhas anotações. A gente se acostuma a tudo. Até com o que é aparentemente ruim, ou o que de bom conseguimos tirar do que é ruim. Ser humano é estranho.
Conversei no corredor com a mãezinha do Matheus do CTI. Ela disse que havia piorado. Ele tem leucemia e pegou pneumonia. Ela sofre muito. Estive no CTI com meu filho, mas não sei dimensionar sua dor. Cada um traz uma dor, alegria e sabedoria específica. Que riqueza.
Mas ela me contou ainda que havia uma mãe (mãe de uma menina de uns 10 anos que está no CTI há alguns meses com câncer no cérebro) que estava falando mal de mim para as outras mães no dia anterior.
É que resolvi não almoçar junto com as mães do CTI pra sentar ao lado da Lúcia, mãe do menininho que fica no leito ao lado do Caio. Ele gritava muito e as enfermeiras (exceto a Dona Maura) não estavam conseguindo lidar com ele. Falavam: “Você chora muito!” “Responde, porque está chorando? Você sabe falar, fala!” As outras mães estão reclamando de você porque não deixa as outras crianças dormirem.”
Lúcia normalmente sentava isolada e coloquei minha bandeja ao lado dela para falar que nós não estávamos chateadas com ela. Que entendíamos que o filho sofria, por isso gritava. E tentei tranquiliza-la dizendo que ela já estava sofrendo demais com ele pra ter de se preocupar ainda com as outras mães...
A conversa foi boa.
Mas parece que a tal mãe da menina de 10 anos se incomodou de eu não ter sentado com elas, fazendo uma mini intriga com as demais mães.
É... mesmo lá os limites são provados. Deus nos desinstala onde quer que estejamos.
Tenho séria dificuldade com conflitos e fiquei cara a cara como a Tathi pequena e medrosa de sempre.
O limite dela tocou o meu e isso foi como um choque de realidade pra mim. Depois disso me fechei um pouco.
Onde quer que eu esteja eu também serei eu. E como ela, lidarei com o espinho na minha carne. Este espinho nos rebaixa ao mesmo patamar de pecadoras... Sejamos vigilantes.
Fiquei feliz de ter saído do CTI, Deus mudou meu cenário e me tirou novamente da rotina.
Fiz nesse dia uma oração diferente: pedia não pelos pacientes, nem pelos pais, mas por todos que se encontram sem vigilância nos hospitais. Lá somos tão estimulados a olhar pro corpo que a fragilidade do espírito passa muitas vezes desapercebida.
Constatei, afinal, que o sofrimento por si só não santifica, mas o quanto amamos na dor.
Comentarios