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3 dias no CTI pediátrico (PARTE #5) – Dona Maura

  • Tathi Pio
  • 3 de nov. de 2016
  • 2 min de leitura

Ela já chegou diferente. Não parecia refém do lugar. Era autêntica, difícil até de explicar. É enfermeira plantonista do CTI da Baleia. Ficou uma noite com o Caio. Noite onde tudo mudou dentro e fora de mim.


Nenhuma enfermeira conseguia fazer nebulização com o Caio, porque ele começava com um acesso de tosse horrível. Ela, com toda paciência, o esperou dormir e colocou a máscara de nebulização sem encostar. Deu muito certo. “Nem tudo é a ferro e fogo”, ela dizia. “Tem que ir no tempo dele. Tudo tem seu tempo abaixo do céu, tempo de plantar, tempo de colher...”


Ela se humilhava com sabedoria. Ficou alguns minutos somente segurando o bico do Caio para que ele pudesse ficar mais tranquilo. “Meus honorários de seguradora de bico são caros”, dizia ela rindo pro Caio. Virou a maca dele de costas pra TV geral do CTI porque o estava atrapalhando dormir; deu um jeito engenhoso de medir a pressão dele sem o acordar; deitou-o no meu colo pra ele se sentir mais protegido... e aos poucos o lugar foi tomando nova cara. A cara da esperança. Caio ia melhorando visivelmente.


Dona Maura possui o dom de diagnosticar momentos e resolver pontualmente as situações. Sim, tudo tem seu tempo abaixo do céu. Ela até teve tempo de tirar uma sonequinha (o descanso também é previsto por Deus).


Só ela conseguiu acalmar o menininho de 3 anos no leito ao lado que chorava de dor (ele tinha acabado de fazer uma cirurgia, além das fortes dores das reações da quimioterapia). “Se seu choro acordar os outros meninos, vou pegar todo mundo e colocar aqui em cima da sua cama pra você me ajudar a olhar.” Dizia com carinho.


Dona Maura muda o ambiente onde ela está. Está sempre presente como serva, mas não se deixa aprisionar. Ela não é a minha enfermeira e me dá espaço pra eu ser mãe do Caio.


Após a noite com Dona Maura, comecei a ter menos paciência com as outras enfermeiras. Interessante. Fiquei mais mãe. Assumi mais o Caio ao vigiar os remédios, dava pitaco na forma como o manuseavam... As pessoas são muito imaturas psicologicamente e espiritualmente para um lugar como aquele.


Sabe, tenho pra mim que dona Maura não é sempre assim, disposta, feliz. Que bom. Porque nos estimula a sermos assim também. A escolha é dela. É nossa.


Engraçado. Uma enfermeira aqui tentou imitar a Dona Maura pra tentar fazer o menininho do meu lado se acalmar. “Vou trazer os meninos pra você olhar se não parar de chorar.”


Foi um desastre! rs

É... busquemos nossa dona própria Dona Maura interior.





 
 
 

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